segunda-feira, junho 19, 2006

O papel dos pais na aprendizagem I

Os pais, sejam ou não músicos, desempenham um papel importante na aprendizagem de competências musicais por parte dos filhos. A questão da aprendizagem de competências e de desenvolvimento de aptidões começa muito cedo, visto que é amplamente conhecido que as crianças conseguem ouvir música e palavras nas últimas semanas de 'estadia' no ambiente intra-uterino e que conseguem reconhecer esses sons depois de nascerem.

O interesse que as crianças terão no som, na música e nos seus componentes variará consoante o grau de interacção musical e quase-musical que os pais desenvolvem com os seus filhos. O tipo de interacção musical mais eficaz acontece quando os pais cantam para o bebé, muito embora fazer ouvir música gravada ou ao vivo possam também seja positivo. O tipo de interacção quase-musical envolve a comunicação (vocal mas não-verbal) que os pais usam quando embalam, alimentam, brincam com as crianças. Diz-se quase-musical porque envolve parâmetros musicais: variação de altura sonora, timbre, melodia, ritmo, tempo e dinâmica. A interacção quase-musical termina quando o centro de atenção passa a ser a aquisição de linguagem.

No fundo, os pais que promovem este tipo de interacções educam-nas musicalmente (mesmo que de uma forma elementar), proporcionando às crianças uma compreensão sensorial dos fenómenos sonoros e musicais.

sexta-feira, junho 09, 2006

O valor da repetição

A aprendizagem de música depende essencialmente da aquisição de competências psico-motoras. Se na aprendizagem de uma disciplina do ensino regular (Biologia, Português, Física...) a aprendizagem de um conceito depende, na maioria dos casos, de uma exposição ou explicação dos fenómenos ou dos elementos associados a esse conceito, no caso do ensino da música (quer no ensino especializado, quer no não-especializado) a aprendizagem de conceitos e competências depende quase exclusivamente da qualidade e do número de repetições.

Número de repetições - Aplicando o PST (Production System Theory) à aprendizagem na música, percebemos que um comportamento ou uma competência só é adquirida, adicionada e incorporada, se o Sistema Cognitivo que controla a aquisição de comportamentos ou competências encarar esse comportamento ou competência como útil. Para o Sistema Cognitivo, o que determina a utilidade do comportamento ou da competência é o número de vezes que é repetido com sucesso. As competências a que nos referimos dizem respeito, quer às que os professores de instrumento desenvolvem como às que os professores de Formação Musical querem fazer desenvolver.

Qualidade das repetições - Recorrendo à mesma teoria, a aprendizagem de uma competência só se efectiva se todas as sub-competências que dela dependem já tiverem sido repetidas ao ponto de terem sido incorporadas com sucesso. [Pensando num caso prático, imagine que um aluno quer conseguir tocar uma escala, digamos de Dó Maior. Para que esta competência (hierárquicamente superior) possa ser adquirida com sucesso, é necessário que as competências dispostas nos níveis inferiores da hierarquia de complexidade tenham sido adquiridas/aprendidas com sucesso. Neste caso podemos imaginar o nível mais baixo da hierarquia deste exemplo contendo como competências iniciais ser capaz de associar a tecla/corda/posição a cada uma das notas que constituem a escala de Dó Maior.] Portanto, para haver sucesso na aquisição de uma competência tem de haver uma sucessiva repetição/integração das suas mais directas sub-competências.

Quando é que se conclui que o número de repetições é suficiente? Quando nos tornamos capazes de desempenhar a competência de uma forma reflexiva, sem efectuar qualquer tipo de esforço mental. No caso do Instrumento quando somos capazes de tocar uma peça, uma escala, um acorde ou uma nota sem qualquer tipo de esforço mental. No caso da Formação Musical quando somos capazes de entoar um intervalo, ler uma melodia ou percutir um ritmo sem fazer qualquer esforço mental.

Portanto, o que quer que tentemos aprender em música, só seremos bem-sucedidos dependendo da quantidade de tempo e esforço que gastamos em repetir.

N.A. - Para mais informações sobre o PST podem ser obtidas no livro:
[Sloboda, J. (1985) Musical Mind; Oxford University Press]

terça-feira, junho 06, 2006

Tornar objectiva a aprendizagem

O índice de desempenho dos professores melhora significativamente quando deixam de pensar no ensino/aprendizagem de uma forma vaga e subjectiva. Tornar o ensino objectivo implica, por um lado, estabelecer metas concretas (ao nível da aquisição de competências) para cada aluno, mas implica também fazer uma utilização inteligente do seu leque de estratégias.

Para poder fazer isto desta forma, o professor precisa, em primeiro lugar, desenvolver uma opinião positiva e uma relação saudável com os erros e as falhas dos alunos, não as encarando como impedimento ao seu bom trabalho mas como oportunidades para poder agir enquanto formador, adicionando-lhe a capacidade para concentrar a sua atenção no processo cognitivo que esteve na origem da falha ou do erro, de modo a que possa utilizar a estratégia adequada para a solução do problema.
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