quarta-feira, agosto 29, 2007

Aprender a Cantar para Aprender a Tocar

Um estudo realizado por Lisboa (citado em Mills, 2003) sugere que aprender a cantar de cor a peça (as peças) antes de a ler ou tocar, melhora o desempenho dos alunos por diminuir o número de erros dados e por melhorar o nível de expressividade apresentada.

A possível justificação para os resultados obtidos no estudo é: antes de começarem a ler ou a tocar a peça, os alunos já tinham desenvolvido uma '
representação mental' da peça.

Estes resultados não são conseguidos quando as crianças aprendem as peças por: 1. descodificar a notação musical, e 2. compreender 'visualmente' a estrutura da peça. Portanto, urge repensar algumas das estratégias usadas por professores de instrumento, sobretudo ao lidar com crianças.


Mills, J. (2003) Musical Performance: crux or curse of music education? Psychology of Music, 31(3), 324-339


2 comentários:

Anónimo disse...

Quer dizer então, segundo o que publicou, que se torna cada vez menos importante uma análise prévia das peças que as crianças estudam, bem como a descodificação da notação musical para a assimilação daquilo que se propõem tocar? Devem as crianças primeiramente ouvir o professor tocar e seguidamente aprender a cantar de alguma forma as peças sem apoio na leitura? Só depois tocar peça? Até que ponto este tipo de aprendizagem não produz no futuro executante alguma dependência deste processo. Ele torna-se dependente da audição ou do conhecimento sensorial da peça antes de tocar? Todos sabemos que a forma como vivemos as situaçôes na nossa infância influencia a forma como reagimos mais tarde... Quais os limites para aquilo que aqui foi proposto?

fc disse...

Muito obrigado pelo seu comentário.
De facto, os pontos essenciais na aprendizagem do instrumento são: A aquisição de competências motoras/auditivas/expressivas (pela ordem que preferir). Articular a aquisição de todas estas competências em simultâneo é já um desafio e tanto para uma criança.
A notação (sobretudo nesta fase inicial de aprendizagem) torna-se uma sobrecarga, porque aprender a ler música implica a aquisão e compreensão de novos signos e mais: a compreensão SONORA desses signos. O que o artigo comentado advoga não é a não utilização de notação musical na aprendizagem instrumental.
O que se quer reforçar é: Até haver fluência na descodificação da notação musical (algo que deverá ser aprendido separadamente do instrumento numa primeira fase) pedir a uma criança que em simultâneo preste atenção à postura, à colocação dos dedos, a coordenação entre mãos, ao ritmo e à altura de som da melodia que está a tocar, dando atenção também à afinação, à qualidade do som e à inclusão de elementos expressivos... e por cima de tudo isto descodifique uma notação composta por dois eixos é pedir bastante a uma criança.
Os efeitos nefastos resultantes de se colocar a notação bem cedo (deixar de prestar atenção à afinação, à qualidade de som, diminuição da capacidade para memorizar, desmotivação, entre outras) são bem notórios e confirmados por vários estudos, entre os quais o apresentado no artigo.
Quando se deverá inserir a notação? Quando a sua inclusão não afectar o ritmo de aprendizagem do instrumento. Quando se tornar uma mais valia e não um problema.

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