domingo, março 19, 2006

O dilema da escolha do instrumento... II

Pode parecer estranho, mas há escolas públicas de ensino especializado de música que no acesso exigem que ciranças entre os 6 e os 8 anos de idade: 1. saibam que instrumento vão querer aprender e/ou 2. saibam tocar 'peças' preparadas na altura da realização a prova.

Ao fazer isto, as escolas estão promover duas coisas:
1. O recurso por parte dos encarregados de educação a professores particulares para ensinar a criança a 'tocar qualquer coisa no instrumento' para depois poder apresentar na prova... (eu pergunto-me se esse tipo de formação não caberia já à escola pública de ensino especializado!)
2. Como o conhecimento dos pais ao nível dos instrumentos é limitado, dá-se um fenómeno consequente => há uma concentração de candidaturas em instrumentos tais como o piano ou o violino, ficando outros instrumentos de menor projecção e visibilidade pública, tais como a violeta, o oboé e o fagote com um menor número de candidatos e eventualmente com candidatos de menor potencial de aprendizagem.

As consequências para a escola, verificam-se ao nível da distribuição dos alunos pelos diferentes instrumentos, e consequentemente no seu equilíbrio conjuntural. No entanto, o problema maior a registar tem que ver com os índices de desistência dos alunos ao longo do percurso escolar. São necessários elevados índices de motivação, muitas horas de trabalho e estudo. Quantos são os que, tendo sido de certa forma obrigados a escolher um instrumento com 6, 7 ou 8 anos, conseguiram prosseguir os seus estudos de modo a atingir um nível superior de formação?

As escolas públicas de ensino especializado precisam de rever urgentemente a sua estratégia de admissão de novos alunos ao nível das iniciações.

1 comentário:

Anónimo disse...

A questão da escolha instrumental afigura-se como uma das mais marcantes no futuro (in)sucesso de qualquer caminho que se pretenda trilhar na esfera musical. Deveria ser, portanto, das mais ponderadas e preparadas. Mas, de facto, não o é. E não o é por factores de vária ordem, alguns já citados no artigo original quando é referido todo o englobamento familiar do candidato a aluno, etc. etc. Mas, pergunto-me, quais serão efectivamente as boas razões para escolher um instrumento? Será que existem?
Sou da opinião de que as boas razões não existem à priori. A criança que manifesta uma predilecção por um determinado instrumento, sem antes lhe ser dado a conhecer um mais abrangente leque de instrumentos, no fundo reflecte toda uma "máscara afectiva" que consubstancia a sua relação com o dito instrumento. Essa carga afectiva pode ser da mais variada origem: a mãe toca, o irmão toca, viu num filme, o timbre é-lhe calmante, etc. O que considero importante é, partindo desta premissa incontornável de que esta carga existirá sempre à partida, chegar a um ponto em que, após relacionamento com variados instrumentos, os reflexos afectivos sejam ofuscados por relações "de facto" que a criança tenha directamente criado com um desses instrumentos - que poderá ser, muito naturalmente, aquele que começou por ser o da sua predilecção - mas por razões, ainda que insondáveis, muito mais perenes).

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